2. Áreas Temáticas

Nesta edição, o congresso está estruturado em quatro áreas temáticas: 1) Patria: romance, série, banda desenhada e vítimas de terrorismo no País Basco; 2) Imagens como pátrias; 3) A imagem e o reconhecimento de si mesmo; 4) A imagem e a luta pelo reconhecimento do outro.

1. «Patria»: romance, série, banda desenhada e vítimas de terrorismo no País Basco

Tanto pela relevância histórica do tema abordado como por se tratava de um fenómeno social extra-literário, quisemos dedicá-lo a Patria(Fernando Aramburu, 2016), e às suas transducções à televisão (HBO, 2020) e à banda desenhada (Toni Fejzula, 2020), uma área temática específica.

Estamos interessados em estudar o valor da ficção para contribuir para a compreensão de determinados fenómenos sociais e parainspirar ou orientar algumas práticas sociais.Os seguintes tipos de investigação são bem-vindos nesta área:

1. Análise hermenêutica, textual, estética ou closereadingdePatria(o romance, a série ou a banda desenhada) como uma totalidade significativa em que reconhecemos ou não as validades sociais em torno do terrorismo e das vítimas no País Basco, incentivando várias possibilidades de habitar esse mesmo espaço geográfico e viver nele.
2. Estudos sobre a receção do romance, série ou banda desenhada no País Basco, em Espanha e no resto do mundo.
3. Análise das mudanças na perceção de vários públicos sobre o terrorismo da ETA a partir da sua receção de Patria(o romance, a série ou a banda desenhada).

2.2. Imagens como pátria

A palavra "mundo" tem significados diferentes. Num sentido forte, o "mundo" é equivalente à "realidade", a tudo o que existe. Assim, no mundo encontramo-nos relacionados com outras pessoas e objetos, por exemplo, com séries televisivas como Patria(2020). Mas acontece que o mundo é sempre visto numa perspetiva pessoal ou social e, nesse sentido, falamos do "mundo pessoal" (circunstância de cada um) ou do "mundo histórico ou social" (circunstância de um grupo de pessoas que vivem num determinado espaço e tempo). Assim, verifica-seque Patriafaz parte do mundo pessoal e histórico de algumas pessoas, enquanto que, para outras, essa série não existe nem faz parte do seu mundo. Finalmente, chamamos "mundo da obra" ou "mundo ficcional" a algo criado por um autor e habitado por, pelo menos, uma personagem. Nesse sentido,Patriaapresenta-nos um "mundo ficcional" que tem uma relação mais próxima ou mais distante com um acontecimento histórico que ocorreu no "mundo".

Nesta área temáticapretendem-se trabalhos que sublinhem as condições de habitabilidade, possibilidades ou não para o bom desenvolvimento da vida humana, de várias obras culturais que podemos habitar imaginativamente, e descobrir nelas as possibilidades e impossibilidade que nos apresentam para a coexistência e desenvolvimento da vida comum.

As comunicações podem ser de três tipos:

1. Obras de reflexão teórica sobre a capacidade de imagens e obras audiovisuais para apresentar o mundo significativo dos EUA, para que possamos capturar nele, de acordo com a feliz sintanoque do teólogo Hans Urs von Balthasar, O todo no fragmento.
2. A análise hermenêutica, textual, estética ou declosereadingdasimagens e obras audiovisuais como totais significativos em que podemos reconhecer o nosso mundo eensaiar imaginativamente várias possibilidades de o habitar e de realizar a nossa vida nele. O texto deve estar no centro, evitando usá-lo como desculpa para impor discursos ideológicos.
3. Reflexões teóricas e propostas metodológicas inovadoras relacionadas com os processos de criação e produção de mundos fictícios(worldbuilding).

2.3. A imagem e "anagnoprises" ou o reconhecimento de si mesmo

As relações entre o "retrato" e o "assunto retratado" convidam-nos a pensar no autorreconhecimento na fotografia e no audiovisual. Estas reflexões convidam-nos a considerar insuficiente a semelhança física e empírica; e convidam-nos a distinguir, com o teórico da Estética de PavelFlorenski(A Iconostatacy:A TheoryofAesthetics, 2016), entre "face" (a matéria objetiva com que o retractor trabalha), "máscara" (um gesto ou expressão vazio) e "semblante" (uma manifestação da autêntica interioridade do sujeito).

Por outro lado, o reconhecimento de si mesmo tem uma grande tradição nas artes dramáticas, pelo menos da Poética de Aristóteles:a agniçãoou anagnoprisise,essa revelação de que a personagemsofre sobre si mesmo, na qual o espectador também é reconhecido, culminando na catarse ou purificação da alma. A cura da alma é através do reconhecimento de si mesmo (dos nossos desejos, virtudes, misérias, etc.), é um património exclusivo da arte ou pode também ser uma função de outras realizações culturais?

Também nos reconhecemos nas nossas ações, capacidades ou incapacidades, promessas, práticas sociais ou coletivas, adesão a grupos sociais ou associações... para que a imagem documental da nossa história pessoal e do ambiente cultural possa ser uma fonte de reconhecimento de si mesmo.

Nesta área temática permitem reflexões teóricas e análise de casos e obras audiovisuais que abordam estas questões.

2.4. A imagem como "ponte" ou a luta pelo reconhecimento mútuo

O "reconhecimento mútuo" implica, num certo sentido, reconhecer o outro na sua justeza. Reconheça o distinto, distante, alienígena, que não é meu, que é questionado pelo meu (ou pelo nosso) mundo e exige atenção, resposta, preocupação. O reconhecimento mútuo implica, no sentido inverso, a luta para nos reconhecermos, para alcançarmos o reconhecimento e a estima do outro ou da sociedade como um todo para mim ou para o meu. Uma luta que se trava em várias frentes: a legal que reclama os direitos, a psicológica que exige estima social, a espiritual que anseia pela paz numa coexistência governada pela troca de dons entre aqueles que são diferentes (Paul Ricoeur, Caminhos do Reconhecimento,2005).

Durante os séculos XIX e XX, a luta pelo reconhecimento tem sido muitas vezes, mais do que uma luta, uma guerra. O debate ideológico, dialético, autoafirmativo pela negação do outro, invadiu todas as esferas da vida. E se a luta pelo reconhecimento não fosse uma guerra uns contra os outros, mas uma "luta amorosa da inteligência" (Karl Jaspers) que nos permite compreender a nossa identidade, reconhecer o outro e reconhecermo-nos uns aos outros?

O reconhecimento mútuo que abandona a atitude "dialética" em benefício de uma atitude "dialógica" ou de encontro tem sido também uma constante em grande parte do trabalho documental e artístico do nosso tempo.

Nesta área temática são permitidas reflexões teóricas e análise de casos e obras audiovisuais que abordam estas questões.